No dia 16 de janeiro, tive uma grata surpresa ao assistir no teu corpo verso ser da Companhia Curvas em Dança na Sala Álvaro Moreira. A primeira surpresa foi encontrar tudo pronto para o espetáculo depois de um temporal de verão que deixou o saguão do Centro Municipal de Cultura cheio de poças d'água devido às goteiras e avarias no telhado do local. A situação não é novidade, mas parece que a Prefeitura não tem feito empenho suficiente para garantir a manutenção adequada do local. Por sorte, estava tudo seco na Álvaro.
no teu corpo verso ser mescla texto, dança e música. Aliás, o fato de ver um espetáculo com a trilha sonora sendo executada ao vivo foi outra grata surpresa. No flamenco, estamos acostumados com esta possibilidade, mas não é comum ver outras linguagens utilizando este recurso. Uma cantora e um guitarrista formam a banda do espetáculo nesta apresentação na programação do Festival Porto Verão Alegre. A interação entre eles e os bailarinos é pequena. Excetuando-se a primeira cena, em que Camila Balbueno, artista dotada de uma voz com belo timbre e técnica vocal excelente, canta rodeada pelos intérpretes (que fazem coro em alguns breves momentos), os músicos ficam sentados em duas cadeiras ao fundo do palco. Me pergunto o quanto disso é escolha estética e o quanto é necessidade técnica, pois, citando novamente a experiência com flamenco, sabemos como pode ser complicado mover músicos pelo espaço. Na grande maioria das vezes, não há microfones, caixas de retorno, canais na mesa, cabos, sistemas sem fio e outras aparelhagens sonoras que possibilitem uma boa execução da musica juntamente com o movimento. Neste caso, as impossibilidades técnicas acabam se impondo aos desejos estéticos e de criação cênica.
Outro elemento que participa em apenas um momento do espetáculo são os quatro manequins posicionados no fundo da cena ao lado dos dois músicos. Será que aqueles dorsos pintados e grafitados com tintas coloridas não poderiam também participar do movimento da cena, ao invés de ficarem imóveis para serem manipulados em apenas um momento? Agora é a experiência com a dança teatro (ou outro nome que prefiram) que me faz imaginar quais outras possibilidades aqueles interessantes elementos cênicos teriam na construção das coreografias e cenas. Como no teu corpo verso ser parece estar em processo, algo comum em espetáculos recentes e das linguagens contemporâneas, estes manequins poderiam ajudar a compor uma cena final, que acho que ainda precisa ser encontrada. Eles também poderiam ser utilizados para quebrar um pouco o ritmo do espetáculo, que intercala cenas faladas com dançadas, quase sempre sendo uma coreografia, um texto dito por algum dos intérpretes, outra coreografia, outro texto e assim sucessivamente. De toda forma, o espetáculo consegue manter uma boa dinâmica musical e nas coreografias, ao misturar de forma inteligente, solos, duos e momentos em grupo.
A Curvas em Dança é um companhia que reúne um elenco heterogêneo e harmônico ao mesmo tempo. Corpos magros, gordos, altos, baixos, com muita ou pouca experiência em dança, se reúnem para colocar em cena coreografias bem elaboradas que demonstram um consistente trabalho de pesquisa e de exploração das possibilidades do espaço e de cada corpo em cena. O grupo é jovem e parece ter boas bases de conhecimento sobre os recursos coreográficos disponíveis. no teu corpo verso ser é uma proposta ousada, por misturar música, texto e dança, e ao mesmo tempo simples e bem realizada por toda a equipe, seja técnica ou artística, nela envolvida.
Ficha técnica no teu corpo verso ser:
Elenco: Giovana Rigo, Gianna Soccol, Karla Santos, Luan Hoffman, Paula Quirino, Rafaela Machado e Teti Ametista
Direção geral: Rafaela Machado
Direção cênica: Luan Hoffman
Textos: Júlia Córdova
Música ao vivo: Camila Balbueno e Ramon Gomes
Técnico de luz: Carlos Azevedo
Técnico de som: Manu Goulart
Cenografia: Alex Zardin
Filmagem e edição: Main Quest
Produção: Seis por Oito
Realização: Companhia Curvas em Dança