terça-feira, 30 de dezembro de 2014

RETROSPECTIVA 2014

Esta história de retrospectiva do ano feita pelo Facebook me fez pensar no que aconteceu em 2014. Ao que parece, o ano que está terminando foi um ano excelente para a grande maioria das pessoas que conheço real ou virtualmente. O ano foi até legal, mas gosto de pensar naquilo que tornou meu ano mais complicado. Não faço isso para ficar reclamando da vida, mas para mudar aquilo que não está de acordo com o que eu esperava.

Tenho muito que agradecer: tenho saúde, tenho uma família que me apoia, tenho um companheiro para a vida, adotei uma gata fofa, tenho o que comer, onde dormir, onde morar, o que vestir, tenho eventos importantes programados para 2015... enfim, tenho muitas bençãos maravilhosas pelas quais agradeço a Deus diariamente, contudo, não tem como fechar os olhos para o que não está tão legal assim. 2014 foi um ano de muito trabalho, muita correria, muita energia empregada em planos, projetos, pessoas, mas mais um ano que termina com pouco dinheiro, desesperança na humanidade e uma sensação de estar sempre patinando no mesmo lugar. Além disto, foi um ano de grandes tragédias, de reeleição de "Bolsonaros", de ver Lasier Martins ser eleito senador, da morte de muitos ídolos, da epidemia do vírus Ebola e por aí vai.

Vamos começar falando sobre a questão financeira. É muito desestimulante trabalhar, trabalhar e trabalhar e terminar o ano contando o dinheiro para pagar as contas. Sei que isso não é só porque resolvi ser artista. Sim, a arte é desvalorizada enquanto profissão no Brasil, porém a "coisa" não está fácil para ninguém. Vejo gente de várias profissões passando pela mesma situação. Sinto no bolso os preços subindo, as contas crescendo e esta é uma realidade que afeta a todos nós. Sim, eu pretendo continuar sendo artista, pois isto é o que me faz feliz e realizada e continuarei fazendo de conta que não escuto minha mãe dizendo todos os dias que eu deveria fazer concurso público ou voltar a trabalhar com jornalismo... Realmente, não vejo benefício em ser totalmente infeliz com minha profissão somente para ganhar uns trocados a mais ou para ter certeza de quanto vai entrar na conta bancária no fim ou início do mês. O que vejo é que a situação econômica não é promissora para quase ninguém. E isso não é "culpa do PT". Vários países no mundo passam por graves crises econômicas. Chega a ser desesperador ver que a ganância de alguns nos leva a passos largos para um mundo cada vez mais desigual. 

Por falar nisto, não tem nada que me deixe mais descrente nos homens do que andar de carro ou a pé nas ruas por aí. No trânsito, as pessoas demonstram todo seu egoísmo, estupidez e falta de amor ao próximo. Já cansei de agradecer por ter chegado viva e comigo e meu carro inteiros em casa. Tem gente que parece que está sozinha no mundo ou que acha que as suas necessidades são maiores do que as dos outros. Por que as pessoas correm tanto? Cortam a frente dos outros? Atravessam sinais vermelhos? Atropelam tantos animais indefesos de propósito (nem vou entrar neste tema do abandono de animais, pois vou acabar matando alguém)? Por que as pessoas ficam brabas quando alguém para na faixa para o pedestre passar? E qual o motivo das pessoas atravessarem avenidas movimentadas fora da faixa e colocarem suas vidas em risco? Sério, o ser humano é o bicho mais egoísta e inconsequente que existe na face da terra! Possui um grau de estupidez inimaginável! E o trânsito é só um pequeno exemplo de onde demonstramos todo este nosso "potencial" para o desamor, a irresponsabilidade, o egoísmo...

Por último, é totalmente desestimulante ver que muitas das coisas que fazemos ou tentamos fazer não saem do papel por causa dos interesses de alguns poucos que controlam os meios de produção ou tem influência sobre as pessoas que os controlam. É muito irritante ver que projetos bacanas não são colocados em prática simplesmente porque não beneficiam algumas pessoas que são responsáveis pela distribuição das verbas, ou seja, projetos legais que não dão lugar à corrupção. É igualmente chato ver que alguns são premiados porque as pessoas acham que podem tirar algum proveito desta situação. É frustrante perceber que estamos presos nessa teia nojenta de interesses financeiros e/ou midiáticos e que isso entrava a vida de muitas pessoas pelo mundo afora. Sério, esta sensação de estar com as mãos atadas é uma das coisas que mais me deixa pessimista em relação ao futuro. Seria melhor perceber que a situação está ruim, mas vislumbrar possibilidade de mudança, porém, o que vemos é que as coisas agem para que tudo permaneça exatamente como está. Vide os políticos e a inércia com que a sociedade brasileira reage aos desmandos dos nossos "representantes". Se eu não conhecesse algumas pessoas que também se indignam com estas coisas, eu já teria desistido de tudo.

Enfim, tomar consciência do que está errado é o primeiro passo para modificar a minha realidade. Acho que podemos fazer pequenas ações no nosso dia-a-dia para ir transformando este futuro que, até então, apresenta-se negro e sem esperança. Para começar a mudança, vou deixar aí embaixo uns agradecimentos que gostaria de ter feito publicamente em 2014 na ocasião do Prêmio Açorianos para o qual fui indicada, mas não ganhei. Não quero mais ficar com "coisas" entaladas na garganta. Este foi um ano difícil, turbulento e desencorajante, mas espero que o time das pessoas que estão determinadas a mudar toda esta situação que nos envolve se agigante. Minha fé não me deixa pensar de outra forma, portanto, resta-me agradecer por ter chegado até aqui e esperar que todos tenhamos um 2015 melhor e abençoado. Que assim seja!


AGRADECIMENTOS
(versão estendida, pois no meu blog não há limitação de tempo para escrever o que eu penso)

Quero agradecer em primeiro lugar a Deus por ter colocado cada uma das pessoas que citarei a seguir em minha vida.

Obrigada à minha família, em especial meus pais, por apoiarem minha decisão de ser artista mesmo que isto vá contra o destino que eles traçaram para mim. Obrigada família por todo apoio emocional, logístico e financeiro que vocês me dão em todos os aspectos da minha vida.

Agradeço também aos professores que me tornaram a pessoa/artista que sou hoje, dentre eles, a pessoa que incutiu em mim o amor pela dança: Terezinha Campos Figueiredo, a Tia Tê. Obrigada ao mestre Robinson Gambarra pela indicação ao prêmio (sei que estava na lista somente porque tu estavas na comissão julgadora) e por, junto com Andréa Franco, ter acreditado em mim quando ainda era apenas uma boa aluna de flamenco. Agradeço também ao corpo docente do Curso Tecnológico de Dança da Ulbra, professores e colegas da primeira turma do Grupo Experimental de Dança de Porto Alegre, à coreógrafa Maria Waleska van Helden, ao diretor Décio Antunes e ao professor Jorge Venâncio por suas inesquecíveis aulas de história.

Agradeço ainda a influência inspiradora das minhas colegas da Geda Cia de Dança Contemporânea (Fabiane Severo, Stela Menezes e Fernanda Stein), dos meus amigos da Cia de Flamenco Del Puerto (Juliana Prestes, Juliana Kersting, Danielle Zill, Ana Medeiros, Tatiana Flores, Gabriel Matias e Giovani Capeletti) e todo o apoio que recebi e recebo de colegas e amigos dos mais diferentes lugares por onde passei e passo. É muito bom saber que tem muita gente que acredita e "torce" para que sejamos felizes.

Um agradecimento especial aos alunos do Tablado Andaluz e da Escola La Tablada por confiarem seus corpos a mim e por me ensinarem tanto. Agradeço ainda a Antonio Machado, Joana Willadino e Laney Langaro pela fé em meu trabalho.

Por último, um agradecimento especial ao responsável por, pelo menos, 50% da bailaora de flamenco que sou hoje: o músico Giovani Capeletti. Obrigada pela parceria dentro e fora dos palcos e por dividir tão generosamente comigo o teu conhecimento e a tua arte. Que nossa vida seja feliz e repleta de arte! Eu te amo!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

CURSOS DE VERÃO EM CANOAS

Depois deste dezembro mega agitado com direito a viagem com a Geda Cia de Dança Contemporânea para La Plata na Argentina, IV Peña Flamenca da Escola La Tablada e I Festival Flamenco do Tablado Andaluz, finalmente o recesso de fim de ano se aproxima. Tempo necessário para me preparar para os cursos de verão.

Em 2015, os cursos de flamenco em Canoas tem formato diferente. Cada curso dura apenas três eu quatro dias buscando facilitar a vida daqueles que estão de férias neste período do ano. Outra novidade é o valor praticamente promocional dos cursos. Cada um deles custa apenas R$ 90,00. Nos cursos que duram três dias, de segunda a quarta, as aulas tem 1h30 de duração. Os de quatro dias, que vão se segunda à quinta-feira, tem aulas com uma hora de duração.

Os dois cursos de iniciação ao baile flamenco, um em janeiro e outro em fevereiro, são específicos para quer começar a dançar flamenco. Os outros cursos podem ser frequentados por alunos de todos os níveis, desde iniciantes até pessoas mais avançadas. O curso de Ritmos, palmas, palos e compás é teórico, ou seja, não precisa nem saber dançar para se inscrever. Para os cursos de baile, castanholas, mantón e leque cada aluno precisa trazer o material necessário para frequentar as aulas. Infelizmente, não disponho de material para locação. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail grazi_silveira@hotmail.com

É preciso fazer inscrição para os cursos até uma semana antes do início previsto para cada um deles. Os cursos só acontecerão se houver um número mínimo de alunos inscritos. As vagas serão garantidas mediante depósito de 50% do valor do curso. No caso do curso não acontecer por falta de alunos, este valor será integralmente devolvido. As inscrições devem ser feitas somente pelo e-mail grazi_silveira@hotmail.com

Todos os cursos acontecem na Escola La Tablada, que fica na Rua Silva Jardim, 47 - Centro - Canoas. As datas de cada curso estão no cartaz abaixo. Espero vcs!


domingo, 16 de novembro de 2014

IMPRESSÕES SOBRE CONSONANTES

Estou para escrever sobre o espetáculo Consonantes da Cia de Flamenco Del Puerto desde que o vi pela primeira vez (acho que foi lá em junho deste ano). Na verdade, estou em dívida com algumas pessoas para as quais falei que ia escrever sobre o assunto. Vi mais duas temporadas do trabalho depois disto e só agora consegui tempo para escrever algo sobre o que vi e ouvi. O chato é que já ouvi e li várias pessoas falarem sobre ele. Tentarei, contudo, manter-me fiel às minhas impressões.

Quero começar falando o que considero mais importante nesta nova proposta da Del Puerto, que é bem diferente do último espetáculo do grupo, chamado Las Cuatro Esquinas. Consonantes é um espetáculo de flamenco, pois todos os artistas envolvidos neste projeto são especializados nesta área por assim dizer. Já coloco no bolo até o Leonardo Dias, que veio do sapateado americano, mas que já foi infectado com o vírus flamenco há alguns anos e vem evoluindo muito nesta nova, para ele, maneira de expressão artística. Acho importante salientar, pois o espetáculo tem sim uma proposta de cena mais relacionada com a contemporaneidade, mas as coreografias, as músicas, os artistas em cena, tudo é estruturado sob a estética e a estrutura musical do flamenco. O próprio "mote" do espetáculo é muito flamenco, já que fala desta construção conjunta que acontece quando músicos e bailarinos se reúnem para fazer arte. O flamenco é comunitário, digamos, pois um elemento precisa do outro para completar-se. O baile, a guitarra, o cante, as palmas, cada um deles é peça fundamental no quebra-cabeças flamenco. Quando um destes falta, a ausência é sentida por todas as outras peças. E isto fica muito claro em cena quando os artistas vão entrando aos poucos no palco até completar a cena. A única coisa que acho que não tem muita relação com o flamenco é o argumento dos fractais, pois entendo que, em se tratando de flamenco, não são peças iguais que se repetem e criam um todo, mas peças absolutamente diferentes e singulares que se unem para fazer um todo coeso.

Voltando a falar sobre a "estrutura" flamenca, é muito bom, sendo eu também uma artista que estuda e trabalha com flamenco, ver algumas "regras" flamencas sendo quebradas em cena. Nisto, a meu ver, a Cia de Flamenco Del Puerto mostra que está acompanhando a produção flamenca feita por algumas grandes companhias. Para quem quer ver mais, basta procurar por nomes como Eva Yerbabuena, Israel Galván e Rocío Molina e notar que tipo de construção cênica contaminou os flamencos nos espetáculos pensados para palcos de teatros, pois esta atmosfera é bem diferente dos bailes em tablaos, cuevas, bares e ruas. Voltando a Porto Alegre, é muito interessante ver os músicos andando e compondo a cena longe da forma tradicional do flamenco que os deixa sentados lá no fundo do palco sem sair do lugar. Em Consonantes, eles ganham liberdade de movimentação por todo palco, entrando e saindo de cena, ficando de costas para o público, dançando, movendo as muitas cadeiras que formam o cenário, compondo e descompondo a cena, enfim, modificando a estrutura. Neste ponto específico, gosto de salientar uma das cenas mais lindas do espetáculo, sob meu ponto de vista, que é o momento em que o guitarrista caminha entre as cadeiras em silêncio como que procurando o lugar ideal para voltar a tocar. É uma cena muito bonita e muito surpreendente para mim, particularmente, pois jamais pensei em ver o Giovani Capeletti, que para quem não sabe é meu noivo e um tímido de carteirinha, "atuando". Fiquei muito orgulhosa de vê-lo conferir à cena o peso dramático que ela pede.

Sob este aspecto, tenho que citar que toda esta inovação conceitual é possível graças à direção de Denis Gosch. Um espetáculo que deseja quebrar a estrutura de cena tradicional precisa ter um olhar "de fora" sobre aquilo que está acontecendo no palco. O Denis, embora não conheça profundamente os códigos da música e da dança flamenca, fez um excelente trabalho ajudando a Cia de Flamenco Del Puerto a compor as transições entre uma cena e outra. O espetáculo tornou-se assim, não uma sucessão de números musicais e dançantes, mas um espetáculo totalmente unificado que, para mim, só dá lugar ao aplauso quando chega na cena final. Trazer um diretor para olhar para o seu trabalho e unificar as cenas mostra que a Cia de Flamenco Del Puerto atingiu a maturidade necessária para colocar suas propostas mais arrojadas em cena de forma clara e coesa. E por falar em direção e composição de cenas, preciso citar a iluminação primorosa de Leandro Gass, que ajuda a compor e modificar todo o clima do espetáculo. Uma das coisas que acho mais interessante, é ver a cena escura num baile que, flamencamente falando, é catalogado como alegre, que são as cantiñas que abrem o espetáculo, e ver a cena muito iluminada num "ritmo" mais tenso como a liviana/cabal que encerra Consonantes. Normalmente, veríamos o contrário, e esta contradição na luz e até no figurino causam um estranhamento gostoso de sentir.

Por falar de figurino, gosto de quase tudo. As roupas das cantiñas, soleá por bulerias e farruca são realmente muito bonitas, flamencas e contemporâneas ao mesmo tempo. Os figurinos do último número, contudo, não conseguiram provocar em mim a mesma sensação. Acho que não entendi totalmente a proposta de construção dos figurinos dos dois bailarinos. Embora tenha gostado do vestido curto com calça por baixo e tenha entendido a necessidade cênica desta roupa, não posso dizer o mesmo do figurino do bailarino. Simplesmente acho que aqueles madronhos brancos sobre o fundo preto me remetem para um lugar muito distante do flamenco que não tem muito a ver com as outras propostas colocadas em cena. Mas também não chega a comprometer a cena ou coisa assim. As roupas deste último número realmente não foram bem captadas pelo meu olhar. Aliás, acho que o figurino dos músicos também poderia ter ganhado um olhar especial, porém, não chego a ficar incomodada de ver que foram eles mesmos que escolheram suas roupas, ou seja, não tem um figurino específico para cada um deles. Os músicos estão com sua habitual roupa preta e ponto.

Por falar em músicos, tenho que destacar a participação dos cantaores Diego Zarcón e Fernando de Marília. Ver Consonantes com um ou com o outro é ver dois espetáculos diferentes. O Diego Zarcón tem a seu favor um excelente compás (ritmo por assim dizer) para o cante quando se trata de cantar para alguém dançar. É incrível como todas as letras combinam com os remates e chamadas e como tudo fica totalmente bem enquadrado e com a dinâmica certa. Ele realmente prova que conhece muitos palos do flamenco, suas melodias, estruturas e possibilidade de letras e variações. Por outro lado, Fernando de Marília tem uma energia cênica muito interessante para o clima criado em Consonantes, já que ele consegue ser mais reflexivo e até mesmo austero em cena, além de ter um timbre de voz muito bonito. Enfim, cada pessoa contribui com o que tem de melhor e torna o espetáculo diferente. E acho que é disso mesmo que se trata: não é ser melhor ou pior, é ser diferente.

E por falar em diferente, Gabriel Matias conseguiu me surpreender positivamente. O solo dele foi simplesmente arrebatador da primeira vez em que eu vi. Como eu o conheço desde os 12 anos mais ou menos, levei um choque ao vê-lo totalmente maduro e à vontade em cena. Foi emocionante, mas continuo sem entender o porquê daquela venda no meio do solo. Enfim, é uma pena que a soleá por bulerias, ou até mesmo o espetáculo inteiro, já não tenha a mesma energia em cena demonstrada naquela pré-estréia no Teatro Renascença. Creio que é normal que o espetáculo mude ao longo do tempo, porém não pode-se deixar que ele perca momentos e dinâmicas interessantes. Acho que seria um conselho meu aos intérpretes de Consonantes: busquem aquele primeiro dia. Busquem aquelas sensações, aqueles desejos e coloquem tudo aquilo no palco de novo. Sei que não é fácil manter um certo tipo de clima e energia, mas este espetáculo precisa deste tipo de exercício por parte dos artistas envolvidos nele. E por falar em clima, a projeção do início é muito longa. Não precisa ter foto de todos os integrantes do espetáculo projetada em cena com um adjetivo identificando cada um. Somente os conceitos de consonar e de fractais já são suficientes para que o público capte o teor do espetáculo, afinal de contas, estas fotos e palavras já estão no programa web de Consonantes que o público pode acessar em casa sem quebrar a atmosfera austera da cena de início.

Para finalizar, quero expressar minha profunda tristeza em ver quantos problemas técnicos impedem e atrapalham a melhor execução e apresentação de Consonantes. É uma pena que a Cia de Flamenco Del Puerto não possua o equipamento (microfones, captadores, mesas de som, caixas de retorno e etc) necessário para uma proposta como esta. Microfonias, microfones que desgrudam do sapato em meio ao baile, volume baixo da guitarra ou alto demais nos pés/palmas realmente atrapalham a perfeita fruição de um espetáculo de flamenco. Flamenco é uma expressão musical e quem trabalha com flamenco sabe disso. A coreografia, a luz, a movimentação em cena, os silêncios, a mudança de cenário, tudo tem a ver com a música que desejamos fazer naquele determinado momento. Um espetáculo de flamenco precisa, portanto, ser tratado como um espetáculo de música. O som precisa ter tratamento especial. O problema maior é que todo este equipamento custa muito dinheiro e não é qualquer grupo, principalmente, porque a cia em questão não conta com patrocinadores, que consegue manter e construir um patrimônio como este.  Por outro lado, não é possível que o teatro esteja com quatro das sete caixas de retorno queimadas e não avise sobre esta situação para o grupo. Os artistas de flamenco precisam se ouvir. Se um não escuta o outro é impossível compor o todo, fica simplesmente impossível consonar. É realmente uma pena não ouvir direito a flauta tão bem tocada do Leonardo Dias e a guitarra flamenca de raiz do Giovani Capeletti. As composições musicais de Consonantes são muito bonitas. Gosto principalmente das falsetas das cantiñas, da farruca como um todo e da falseta do cabal que gruda na cabeça e fica lá por uma semana mais ou menos.

Enfim, de maneira geral, acho que Consonantes tem muito mais prós do que contras. É uma proposta bem interessante e todos os artistas envolvidos o executam de forma limpa. Dá para ver todo o trabalho técnico, todas as horas de estudo, todos os ensaios. Dá para ver que foram muitas horas de suor, de construção, de trocas, de tentativas, erros e acertos. Percebe-se que foram feitas muitas escolhas e que o trabalho tem possibilidade de crescimento e renovação. Espero, sinceramente, que a Cia de Flamenco Del Puerto consiga resolver os problemas técnicos de Consonantes e que o espetáculo volte à cena em breve.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

AGENDA FLAMENCA DE SETEMBRO EM PORTO ALEGRE

A vida está uma correria louca e ainda não consegui sentar ao computador para escrever sobre o espetáculo Consonantes da Cia de Flamenco Del Puerto, mas o texto vem antes da nova temporada do espetáculo que acontece no final de outubro e início de novembro. Enquanto isso, aproveito o espaço  na agenda para divulgar os eventos flamencos que acontecem nesta e na próxima semana em Porto Alegre.

Vamos começar pelo premiado Las Cuatro Esquinas que volta a cartaz dentro da programação do Porto Alegre Em Cena. As apresentações abrem a turnê nacional do Prêmio Funarte de Dança Klaus Vianna que a companhia porto alegrense ganhou no ano passado. O espetáculo será apresentado na capital gaúcha nos dias 18 e 19 de setembro às 19h no Teatro do Sesc. Os ingressos já estão quase esgotados!

Dia 18, tem também o projeto Flamenco Sem Fronteiras do cantaor Diego Zarcón no Solar Coruja no Centro de Porto Alegre. O show reúne artistas de Porto Alegre e do Rio de Janeiro como os bailaores Eliane Carvalho e Pedro Fernandez e o guitarrista Roberto Monteiro. Os ingressos custam R$ 25,00 e o evento está marcado para às 20h30. O show integra a programação do projeto Flamenqueria.

Dias 19 e 20 de setembro, tem mais uma edição do projeto Algo Más do Tablado Andaluz. Desta vez, a convidada é a bailaora carioca Eliane Carvalho que se apresenta ao lado de Giovani Capeletti, Roberto Monteiro, Pedro Fernandez, Andréa Franco, Gustavo Rosa e Diego Zarcón no Bar Flamenco localizado na Avenida Venância Aires, 556. O show começa a partir das 22h. Informaçõess e reservas pelo telefone: 3311-0336.

Na outra semana, aproveitando a passagem da Cia Antonio Gades por Porto Alegre (apresentação que já está com os ingressos esgotados), a Escola Del Puerto realiza uma masterclass com a bailaora Raquela Soblechero que integra o companhia espanhola. A aula está marcada para dia 25 de setembro às 10h na sede da escola que fica na Avenida Cristóvão Colombo. O encontro tem três horas de duração e custa R$ 140,00. As inscrições devem ser feitas até o dia 22 de setembro.

Mais informações sobre todos os eventos nos flyers abaixo:





segunda-feira, 25 de agosto de 2014

ESPETÁCULO CONSONANTES EM PORTO ALEGRE

Depois de algumas semanas de ausência virtual aqui no blog, retomo as publicações com a divulgação de um evento de flamenco que acontece no próximo fim de semana em Porto Alegre. Volta aos palcos da capital, o espetáculo Consonantes da Cia de Flamenco Del Puerto. É imperdível!

Esta é a primeira temporada do espetáculo que teve sua pré-estréia em junho integrando a programação do projeto Quartas na Dança da Prefeitura de Porto Alegre. Eu estou devendo uma crítica mais completa ao espetáculo, mas deixei para escrever minhas impressões sobre o mesmo depois da primeira temporada, ou seja, semana que vem tem texto.

No palco, os premiados artistas da Cia de Flamenco Del Puerto ao lado do cantaor carioca Diego Zarcón e do sapateador e flautista Leonardo Dias. Os ingressos custam R$ 30,00 para o público em geral e R$ 15,00 para idosos, estudantes e classe artística (todos mediante comprovação) e podem ser adquiridos antecipadamente na sede da Escola e Cia de Flamenco Del Puerto que fica na Av. Cristóvão Colombo, 752. No dia do espetáculo, os ingressos serão vendidos na bilheteria do Teatro Renascença a partir das 19h. Mais informações sobre a temporada de agosto do espetáculo Consonantes abaixo:


quinta-feira, 31 de julho de 2014

SHOW NO HOTEL SERRANO EM GRAMADO E AGRADECIMENTOS

No dia 26 de julho, subi a serra ao lado de Giovani Capeletti, Gabriel Matias e Roberta Campos para fazer o show de flamenco do jantar espanhol do Hotel Serrano em Gramado. Este foi mais um passinho nessa nova estrada que estou abrindo para o flamenco aqui no Rio Grande do Sul através do meu trabalho em Canoas e dos meus shows em carreira solo.

Mesmo que eu continue como professora e bailaora do Tablado Andaluz em Porto Alegre, desde 2010 comecei a trilhar carreira solo, primeiramente como professora na Escola La Tablada em Canoas. Após quatro anos nesta nova caminhada, começo agora a desenhar o esboço de uma nova Companhia de Baile Flamenco que ainda não tem um nome definido e nem integrantes fixos. Na verdade, a base deste novo grupo somos eu e o guitarrista Giovani Capeletti e o grupo, por hora, tem o meu nome: Graziela Silveira Dança Flamenca ou Graziela Silveira y Grupo. Tenho parceiros no baile que também se repetem nessa nova empreitada atuando comigo em diversos shows, Gabriel Matias e Robinson Gambarra. O primeiro é um jovem talento para o qual tive a honra de dar aulas no início da sua estrada flamenca. O segundo é meu maestro do coração, meu primeiro professor e grande incentivador ao lado do Giovani.

A estes artistas que volta e meia estão comigo nos palcos, praças, trios elétricos e jantares por aí, soma-se também a cantaora e bailaora Roberta Campos, que, pela segunda vez, empresta sua voz para mais uma apresentação deste grupo mutante e adaptável e em fase de formação. Ao grupo somam-se ainda algumas alunas e alunos meus da escola em Canoas, pessoas que acreditam e apostam no meu trabalho e pelas quais tenho muto respeito. Aproveito aqui para agradecer a cada um deles e, em especial, ao diretor da escola Antonio Machado por ter aberto as portas da sua casa para o flamenco e por acreditar que Canoas tinha espaço para esta arte.

Por falar em Canoas, quero agradecer a Joana Villadino da Prefeitura do município que, desde que ouviu falar de mim graças ao colega Kristian Galvão, integrou-me aos grupos e companhias atuantes na cidade e que participam de diversos eventos promovidos pela Secretaria de Cultura. Entre estes eventos, estão as comemorações do Dia Internacional da Dança, uma data que já entrou para o calendário definitivo do município de Canoas e do qual tenho orgulho de participar como artista, produtora e pensadora graças a estas pessoas que viram qualidade e empenho no trabalho que realizo com flamenco.

Voltando ao assunto do início do texto preciso agradecer a Laney Langaro e Bebeto Alves por seu estímulo a arte flamenca na cidade de Canoas. Eles estavam na I Peña da Escola La Tablada em 2012 e também já apostaram duas vezes no meu trabalho para abrilhantar a Paella do Jornal Diário de Canoas. Além disto, ainda indicaram meu grupo para a Fabiana Costa do Hotel Serrano fazendo uma propaganda maravilhosa sobre todos nós. Não tenho palavras para agradecer estes dois e todas estas pessoas que tem acreditado e abrido as portas para mim e meus companheiros nesta nova estrada. É muito bom abrir novos caminhos para o flamenco no Rio Grande do Sul.

Por último, quero agradecer a toda equipe do Hotel Serrano de Gramado pela acolhida, pela presteza em resolver e atender todas as necessidades técnicas que o flamenco demanda. Obrigada pelo tablado excelente, pelo belo camarim e pelo tratamento maravilhoso que todos vocês demandaram a mim e minha equipe enquanto estivemos no hotel. Desde o guarda na guarita até o gerente do hotel, todos foram muito respeitosos e prestativos conosco. Agradecimento especial às meninas do setor de Relações Públicas, Fabiana Costa e sua assessora Renata e às gurias do setor financeiro e administrativo do hotel Gisele e Camila.

Abaixo, seguem fotos e matérias sobre o evento na serra gaúcha.

Coluna de Eduardo Bins Ely no Jornal Do Comércio
Notícia publicada no Jornal de Gramado
Com a Secretária de Turismo de Gramado Rosa Helena Pereira Volk, Fabiana Costa e o Cônsul-Geral da Espanha em Porto Alegre, Sr. José Pablo Alzina de Aguillar
Coluna do Jornal de Gramado
Eu e Gabriel Matias bailando sevillanas ao som da guitarra de Giovani Capeletti e da voz de Roberta Campos
Coluna de Laney Langaro no Jornal Diário de Canoas

segunda-feira, 7 de julho de 2014

SHOWS DE FLAMENCO NO TABLADO ANDALUZ

Nos dias 10, 11 e 12 de julho (quinta, sexta e sábado), danço no Bar Flamenco do Tablado Andaluz em Porto Alegre a partir das 22h. O local abre às 19h30 e oferece buffet de paellas e outros pratos da culinária espanhola que podem ser pedidos no sistema à la carte. O show só começa depois que a janta termina de ser servida, por isso que digo que o horário para início da apresentação é a partir das 22h.

Ao que tudo indica, o show deste próximo fim de semana vai ser cheio de surpresas. Até a data de hoje, a informação que tenho é que o cantaor Diego Zarcón, que é do Rio de Janeiro, estará no palco ao lado de Giovani Capeletti (guitarra flamenca) e Gustavo Rosa (cajón). No baile, muita coisa também pode acontecer, pois o show costuma ser movimentado quando há convidados de fora de Porto Alegre no palco. O que posso afirmar é que estarei dançando nos três dias, mas meus companheiros de baile podem mudar de um dia para o outro. Dentre os artistas que podem fazer parte dos shows estão Andréa Franco (baile) e Pedro Fernández (baile), que também são, respectivamente, diretora geral do Tablado Andaluz e diretor artístico da casa. Além deles, podemos contar ainda com a participação da bailaora paulistana Giovana Vilariño que está passando uma temporada de estudos aqui na capital gaúcha.

Com tantos artistas podendo subir ao palco, o show promete ter bailes novos, antigos, revisitados, mas, acima de tudo, muito improviso o que costuma ser muito apreciado pelo público que conhece e gosta de flamenco. Posso dizer que um show com tantas possibilidades costuma ser também interessante e instigante também para os artistas que estão em cena. É uma experiência enriquecedora para público e artistas. Mais informações e reservas para as três noites de show podem ser feitas pelo telefone 3311-0336 de segunda a sábado a partir das 14h30.

Abaixo, seguem fotos do Bar e dos artistas que estarão nos shows deste fim de semana.
A bailaora Andréa Franco. Foto: Claudio Etges
Buffet de saladas do Tablado Andaluz
O cantaor Diego Zarcón
A bailaora Giovana Vilariño
O guitarrista Giovani Capeletti. Foto: Carlos Sillero
O percussionista Gustavo Rosa. Foto: Andre Maia
As paellas do Tablado Andaluz
O bailaor Pedro Fernández
A bailaora Graziela Silveira. Foto: Sergio Gonzalez

quarta-feira, 2 de julho de 2014

OPORTUNIDADES PARA BAILARINOS

Enquanto eu sigo nas minhas aulas, ensaios e shows de flamenco por aí, aproveito para compartilhar uma informação importante para bailarinos e bailarinas. Dois projetos de Porto Alegre buscam corpos dançantes para trabalhos coreográficos a serem desenvolvidos em 2014.

O primeiro é a Mouvere Cia de Dança que completa 25 anos e busca 3 homens e 3 mulheres para um espetáculo em conjunto com a Orquestra Unisinos. A audição acontece no dia 5 de julho.

O segundo é o projeto Patas Arriba que também  busca 6 bailarinos/bailarinas e 3 suplentes para participar de um projeto baseado na obra de Eduardo Galeano com coreografia de Rui Moreira. Este projeto estréia em dezembro de 2014 no Theatro São Pedro. As audições acontecem nos dias 5 e 6 de julho.

Mais detalhes sobre as audições nos flyers abaixo.



quarta-feira, 11 de junho de 2014

SHOWS DESTE MÊS EM PORTO ALEGRE

Graças às coincidências da escala de bailarinos no Bar Flamenco do Tablado Andaluz, danço neste fim de semana de namorados e de início de Copa do Mundo em Porto Alegre. O restaurante já está lotado para quinta-feira, dia 12 de junho, mas o jantar especial para os pombinhos Enamorados vale também para sexta-feira. No sábado, a casa funciona normalmente com show de flamenco e buffet de paellas além de vários pratos da culinária espanhola que também compõem o cardápio da casa. Informações e reservas pelo telefone: 3311-0336 a partir das 14h.

No palco, fazem o show os artistas Andréa Franco (baile), Pedro Fernandez (baile e cante), Gustavo Rosa (cajón), Giovani Capeletti (guitarra), Graziela Silveira (baile) e o convidado especial Diego Zarcón (cante) que fica uma temporada na capital gaúcha para acompanhar os espetáculos da Cia de Flamenco Del Puerto e as noites de tablao do Tablado Andaluz deste e do próximo fim de semana.

Abaixo, segue uma foto do show que fiz ao lado do guitarrista Giovani Capeletti na quinta-feira passada na segunda edição do evento Paella do DC promovido por Laney Langaro e Bebeto Azevedo em comemoração aos 22 anos do Jornal Diário de Canoas, bem como um cartaz com mais informações sobre os shows no Tablado Andaluz.

Por alegrias no Blue Moon Espaço de Eventos em Canoas

quinta-feira, 5 de junho de 2014

FOTOS DO DIA INTERNACIONAL DA DANÇA EM CANOAS

Enquanto me preparo para dançar na segunda edição do evento Paella do DC, que comemora os 22 anos do Jornal Diário de Canoas, no Espaço de Eventos Blue Moon, relembro minha participação na Gala do Dia Internacional da Dança 2014 em Canoas. O show ocorreu no dia 29 de abril de 2014. Eu, o bailaor Gabriel Matias e as alunas Clara Moraes e Deisi Ferreira, que frequentam minhas aulas de flamenco na Escola La Tablada, apresentamos três números para os quase 400 presentes no The Place. A promoção foi da Prefeitura Municipal de Canoas através da Secretaria de Cultura da Cidade. As fotos são de Renata Simmi.

Graziela Silveira por tangos
Graziela Silveira e Gabriel Matias por tangos
Graziela Silveira e Gabriel Matias por tangos
Gabriel Matias por tangos
Graziela Silveira e Gabriel Matias por tangos
Graziela Silveira e Gabriel Matias por tangos
Graziela Silveira por alegrias
Graziela Silveira por alegrias
Graziela Silveira por alegrias
Graziela Silveira por alegrias
Graziela Silveira por alegrias
Graziela Silveira e Clara Moraes por sevillanas
Deisi Ferreira por sevillanas
Graziela Silveira, Deisi Ferreira, Gabriel Matias e Clara Moraes por sevillanas
Clara Moraes por sevillanas
Graziela Silveira, Deisi Ferreira, Gabriel Matias e Clara Moraes por sevillanas

terça-feira, 27 de maio de 2014

MEU ESTILO DE DANÇA

Conforme prometido, seguem minhas reflexões sobre meu “estilo de dança”. Para quem não viu o início da questão no Facebook, esta pulga nasceu atrás da minha orelha quando fui fazer a audição para a recém-criada Cia Municipal de Dança de Porto Alegre. A audição consistia em uma aula e o último exercício da aula era ir até a banca examinadora dançando conforme o seu estilo.

Assim que a professora terminou a frase eu pensei: “E qual é o meu estilo?” Imediatamente pensei no flamenco, que é a linguagem artística que venho estudando mais nos últimos dois anos e que seria meu “diferencial” naquele grupo de bailarinos reunidos na sala, mas não excluí a dança contemporânea e o ballet clássico dos meus pensamentos, pois eles fizeram e ainda fazem parte da minha vivência corporal. E isso só para citar as linguagens com as quais mais trabalhei e que deixaram algumas marcas no meu corpo, nos meus movimentos, na minha maneira de dançar e de ver a vida.

Óbvio que fiz muita bobagem na hora do exercício. Infelizmente, não consigo mostrar meu estilo pessoal em 30 segundos avançando em direção a uma banca examinadora. Ainda mais se levar em conta que eu fiquei o tempo todo pensando: qual é o meu estilo? Enfim, como se supõe, não passei na audição, mas isto é tema para outro texto, pois trata-se de uma rejeição artística que ainda estou digerindo e sobre a qual ainda não consigo refletir sem me debulhar chorando. Voltemos, portanto, ao meu estilo de dança.

Saí da sala de aula pensando no meu estilo que, creio, deveria ser uma mistura de ballet clássico, dança contemporânea* e flamenco, pois são as danças que mais estudei ao longo dos anos. Aí lembrei de um texto lido na faculdade sobre corpos híbridos e fui atrás para lembrar do que se tratava e de quem era. O texto chama-se Corpos humanos não identificados: hibridismo cultural e é de Dani Lima. Nele, a autora fala sobre a forma corporal na dança contemporânea.

Enfim, fazendo uma leitura rápida no texto, identifiquei meu corpo ou minha formação como bailarina como um corpo híbrido, composto de várias técnicas, mas que não é formado somente por uma delas ou que não demonstra formação específica em somente uma técnica ou outra. Sou fruto desta mistura de técnicas a que eu mesma me expus ao longo dos anos e este corpo não é imutável, pois vai continuar sendo exposto a diferentes situações, linguagens e formas de movimento. E este conceito responde um pouco minha dúvida sobre meu estilo ou a falta dele. Explico...

Quando eu dancei ballet clássico, nunca fui princesa, a Fada Açucarada ou o cisne bonzinho. Eu era sempre a vilã, a espanhola, o cisne negro... Minha professora dizia que eu tinha movimentos muito fortes para os papéis mais meigos e doces. Eu ficava arrasada. Sempre quis ser a princesa boazinha. Aí, fui fazer aula de dança contemporânea. Depois de meses me batendo contra o solo, estava começando a me achar mais soltinha, menos clássica e com menos hematomas pelo corpo. Numa bela aula, ouço a Eva Schull dizer: “tu tens que soltar mais o peso do corpo no chão. Parece que tu estás sempre dançando flamenco.”

Em Madri, passei por outra experiência perturbadora. Estava me achando “super flamenca”, pois já tinha perdido um pouco daquela postura rígida do ballet que carregava comigo para as aulas de flamenco, quando uma bailaora brasileira radicada em Madri chamada Yara Castro me fala: “não faz essa chamada, você, com este jeitão de bailarina que você tem, precisa fazer uma coisa mais “classuda”!” Concluo, portanto, que não me enquadro nas características estéticas de nenhuma das danças que já estudei mais profundamente...

Juro que lembrei de tudo isso na hora do tal exercício na aula. Eu não sou clássica, não sou flamenca e não sou contemporânea, ou seja, eu sou um ser único e que misturou isto tudo ou que realmente não conseguiu misturar nada disso. Cheguei à conclusão que sou uma pessoa que dança há mais de vinte anos e que tenta harmonizar o corpo de acordo com as diferentes linguagens estudadas, mas que ainda não atingiu este objetivo. E, sinceramente, levando em conta a época em que vivemos, na qual estamos expostos a tantas informações, não sei se quero ser só flamenca, só clássica ou só contemporânea.

Acho que gosto de pensar que, quando danço flamenco, busco mais as formas corporais ligadas a este tipo de dança, mas que também não impeço meu corpo de, em algum momento ou outro, parecer-se ao ballet clássico ou a dança contemporânea. Afinal de contas, meu corpo não sabe exatamente separar todas estas linguagens. Às vezes elas simplesmente se misturam, outras vezes se separam e vão para polos opostos, porém continuam criando formas e significando algo com isto. Desta forma, eu continuo sendo eu com meus defeitos e qualidades, com a minha forma particular de dançar e de me expressar.

Por fim, sou uma pessoa que tem tendinite no joelho esquerdo, fascite nos dois pés, uma coluna lombar retificada por causa de duas vértebras que nasceram coladas (fato que só descobri depois dos 30 anos), que dança ballet clássico desde os 5 anos, que tenta estudar flamenco há uns 10 anos e que há 6 anos descobriu que gosta também de dançar com os pés descalços, o cabelo solto e testar novos movimentos e formas. Sou uma pessoa que ficou quatro dias pensando no seu próprio estilo de dança e que não chegou à conclusão definitiva sobre o assunto. Só sei que, por enquanto, sou isto e que é assim que me mostro em público para ser acolhida ou não. Mesmo sendo rejeitada, tenho certeza de uma coisa: eu comunico algo aos outros. As pessoas não ficam indiferentes a minha forma de mover o corpo em cena seja a cena que for: clássica, flamenca ou contemporânea. E, por hora, acho que isso já é uma vitória para alguém que se diz artista.


* esta denominação é muita ampla e pode englobar muitas coisas, mas no contexto deste texto, a utilizo para reunir as técnicas que surgiram a partir da dança moderna. De maneira geral, são as linguagens que usam os movimentos em contato com o solo, os pés descalços, a mistura com outras linguagens como o teatro e o vídeo, que propõem uma forma de pensar o corpo, o movimento e a cena de uma maneira diferente daquela proposta pelo ballet clássico e pela dança moderna.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

MODELANDO PARA MINHA MÃE

Em 2010, resolvi fazer umas fotos em estúdio com meu amigo e grande fotógrafo, Carlos Sillero que vivia me convidando para tirar fotos. A idéia não era fazer um book de modelo, mas sim um book de bailarina flamenca. Naquela manhã, levei alguns figurinos pro estúdio do Carlos e tiramos várias fotos assessorados pelo bailaor Gabriel Matias e pela maquiadora Deby Marques. Saí de lá me achando uma super modelo.

Resultaram dali muitas fotos, mas eu tinha certeza que não ia gostar de muitas delas, pois sempre me acho horrível em fotografias. Acabou que, graças às dicas preciosas do meu querido fotógrafo e à maquiagem e cabelos primorosos da Deby, acabei gostando de um monte de fotos. Eu gostei, meu namorado gostou, meu pai gostou, minhas irmãs acharam legais e, é claro, minha mãe adorou. Mãe é tudo igual...

Enfim, me achei bonita em várias fotos e uso elas no meu portfólio profissional, mas isso era pouco para minha mãe. Ela me achou tão linda nas fotos que ficou me azucrinando para fazer um cadastro numa agência de modelos. Só minha mãe para achar que eu levo jeito para este tipo de coisa. Aliás, se dependesse da minha mãe, eu estava apresentando o Jornal Nacional ou tendo um programa só meu em algum canal da TV brasileira. Enfim, como mãe não desiste nunca, resolvi ceder a pressão e fui fazer o tal cadastro e, por conseguinte, as tais fotos.

Quando eu cheguei na agência e vi a "maquiadora" chegando com uma sacolinha da Panvel com a maquiagem para passar em mim, desejei fortemente ter levado minha maleta com meus pós, corretivos, bases e sombras... Enfim, isso não era possível. Sentei na cadeira e esperei a menina fazer uma maquiagem basiquinha e sem muito glamour. Fiquei até bonitinha e fui pro estúdio.

Entrei lá e levei outro choque. O fotógrafo não conseguia ajustar a luz do estúdio pois só estava acostumado a fotografar crianças. Nesta hora, lembrei da minha mãe e pensei: "depois que isto terminar a Celma vai parar de me encher o saco". Sorri, dancei, gargalhei, tirei umas fotos, fui simpática e terminei logo com aquilo. Saí da agência com a certeza que aquelas fotos ficariam um lixo e que eu ia me odiar em todas elas. Por causa disso, nem fui buscar o Cd com as fotos quando elas ficaram prontas.Não sei o nome do fotógrafo e muito menos da maquiadora.

Pois este ano, me ligaram da agência para conferir o cadastro e acabei indo lá buscar as tais fotos que eu nunca tinha visto. Não é que algumas até saíram bonitinhas! Óbvio que não sou modelo, nunca fiz trabalho nenhum na área e só faço testes para comerciais e coisas do gênero quando pedem bailarinos e/ou jornalistas, mas fiquei feliz daquela tarde não ter sido absolutamente perdida. Finalizando o falatório todo, seguem abaixo algumas das fotos desta sessão em homenagem à minha mãe que me azucrina tanto, mas que tenho certeza que me ama. Obrigada pelos empurrões, Celminha.






terça-feira, 22 de abril de 2014

DIA INTERNACIONAL DA DANÇA EM CANOAS

Na próxima terça, dia 29 de abril, comemora-se o Dia Internacional da Dança. Como no ano passado, participo das festividades desta data em Canoas junto com os demais artistas da cidade nos eventos promovidos pela prefeitura deste município. A programação começa já no dia 28, com exposição de fotos e muita dança. Desta vez, participo das apresentações no Centro da cidade a partir das 6h30 da manhã e na Gala de Dança do dia 29 junto com minhas alunas de flamenco da Escola La Tablada e do bailaor Gabriel Matias. Todos os eventos têm entrada franca. Confiram a programação completa:

28 de abril
ABERTURA OFICIAL
19h - Exposição fotográfica "Memórias da Dança em Canoas"
Intervenções com Terpsí Teatro de Dança
Local: The Place (Rua Fab, 134 - Nossa Sra. das Graças, Canoas - RS)

29 de abril
6h30 - APRESENTAÇÕES DE GRUPOS CANOENSES
Locais: Calçadão (Rua Tiradentes, esquina com a Rua XV de Janeiro - Centro)
Estação Canoas/ La Salle do Trensurb (Av. GUilherme Schell, 5670 - Centro)
Estação Mathias Velho do Trensurb (Av. Guilherme Schell, 7450)
Passarela de Pedestres (Rua Tiradentes - BR 116 - Centro)

12h - APRESENTAÇÕES DE GRUPOS CANOENSES
Locais: Calçadão (Rua Tiradentes, esquina com a Rua XV de Janeiro - Centro)
Estação Canoas/ La Salle do Trensurb (Av. GUilherme Schell, 5670 - Centro)
Estação Mathias Velho do Trensurb (Av. Guilherme Schell, 7450)
Passarela de Pedestres (Rua Tiradentes - BR 116 - Centro)

14h30 às 16h30 - ESPETÁCULOS DE DANÇA PARA ESCOLAS
1. Romualdo e a Dança das Palavras
2. Guica Improvável para Corpos Mutantes
Local: The Place (Rua Fab, 134 - Nossa Sra. das Graças, Canoas - RS)

16h - ESPETÁCULO DESVIOS - MUOVERE CIA DE DANÇA
Local: Calçadão (Rua Tiradentes, esquina com a Rua XV de Janeiro - Centro)

17h - APRESENTAÇÕES DE GRUPOS CANOENSES
Locais: Calçadão (Rua Tiradentes, esquina com a Rua XV de Janeiro - Centro)
Estação Canoas/ La Salle do Trensurb (Av. GUilherme Schell, 5670 - Centro)
Estação Mathias Velho do Trensurb (Av. Guilherme Schell, 7450)
Passarela de Pedestres (Rua Tiradentes - BR 116 - Centro)

19h30 - 2º GALA DE DANÇA
Com os grupos: Urban Face, Art & Dança, Studio Spasso, Kristian Galvão e Grupo, Inspiración - Tango, Ballet Erenita, Graziela Silveira, Solovey, CTG Brazão do Rio Grande, Najma Safi
Local: The Place (Rua Fab, 134 - Nossa Sra. das Graças, Canoas - RS)

* A exposição "Memórias da Dança em Canoas" estará aberta à visitação de 1º a 31 de maio na Biblioteca Pública João Palma da Silva (Rua Ipiranga, 105 - Centro).