Tenho muito que agradecer: tenho saúde,
tenho uma família que me apoia, tenho um companheiro para a vida, adotei uma
gata fofa, tenho o que comer, onde dormir, onde morar, o que vestir, tenho
eventos importantes programados para 2015... enfim, tenho muitas bençãos
maravilhosas pelas quais agradeço a Deus diariamente, contudo, não tem como
fechar os olhos para o que não está tão legal assim. 2014 foi um ano de muito
trabalho, muita correria, muita energia empregada em planos, projetos, pessoas,
mas mais um ano que termina com pouco dinheiro, desesperança na humanidade e
uma sensação de estar sempre patinando no mesmo lugar. Além disto, foi um ano
de grandes tragédias, de reeleição de "Bolsonaros", de ver Lasier
Martins ser eleito senador, da morte de muitos ídolos, da epidemia do vírus
Ebola e por aí vai.
Vamos começar falando sobre a questão
financeira. É muito desestimulante trabalhar, trabalhar e trabalhar e terminar
o ano contando o dinheiro para pagar as contas. Sei que isso não é só porque
resolvi ser artista. Sim, a arte é desvalorizada enquanto profissão no Brasil,
porém a "coisa" não está fácil para ninguém. Vejo gente de várias
profissões passando pela mesma situação. Sinto no bolso os preços subindo, as
contas crescendo e esta é uma realidade que afeta a todos nós. Sim, eu pretendo
continuar sendo artista, pois isto é o que me faz feliz e realizada e
continuarei fazendo de conta que não escuto minha mãe dizendo todos os dias que
eu deveria fazer concurso público ou voltar a trabalhar com jornalismo...
Realmente, não vejo benefício em ser totalmente infeliz com minha profissão
somente para ganhar uns trocados a mais ou para ter certeza de quanto vai
entrar na conta bancária no fim ou início do mês. O que vejo é que a situação
econômica não é promissora para quase ninguém. E isso não é "culpa do
PT". Vários países no mundo passam por graves crises econômicas. Chega a
ser desesperador ver que a ganância de alguns nos leva a passos largos para um
mundo cada vez mais desigual.
Por falar nisto, não tem nada que me deixe
mais descrente nos homens do que andar de carro ou a pé nas ruas por aí. No
trânsito, as pessoas demonstram todo seu egoísmo, estupidez e falta de amor ao
próximo. Já cansei de agradecer por ter chegado viva e comigo e meu carro
inteiros em casa. Tem gente que parece que está sozinha no mundo ou que acha
que as suas necessidades são maiores do que as dos outros. Por que as pessoas
correm tanto? Cortam a frente dos outros? Atravessam sinais vermelhos?
Atropelam tantos animais indefesos de propósito (nem vou entrar neste tema do
abandono de animais, pois vou acabar matando alguém)? Por que as pessoas ficam
brabas quando alguém para na faixa para o pedestre passar? E qual o motivo das
pessoas atravessarem avenidas movimentadas fora da faixa e colocarem suas vidas
em risco? Sério, o ser humano é o bicho mais egoísta e inconsequente que existe
na face da terra! Possui um grau de estupidez inimaginável! E o trânsito é só
um pequeno exemplo de onde demonstramos todo este nosso "potencial"
para o desamor, a irresponsabilidade, o egoísmo...
Por último, é totalmente desestimulante
ver que muitas das coisas que fazemos ou tentamos fazer não saem do papel por
causa dos interesses de alguns poucos que controlam os meios de produção ou tem
influência sobre as pessoas que os controlam. É muito irritante ver que
projetos bacanas não são colocados em prática simplesmente porque não
beneficiam algumas pessoas que são responsáveis pela distribuição das verbas,
ou seja, projetos legais que não dão lugar à corrupção. É igualmente chato ver
que alguns são premiados porque as pessoas acham que podem tirar algum proveito
desta situação. É frustrante perceber que estamos presos nessa teia nojenta de
interesses financeiros e/ou midiáticos e que isso entrava a vida de muitas
pessoas pelo mundo afora. Sério, esta sensação de estar com as mãos atadas é
uma das coisas que mais me deixa pessimista em relação ao futuro. Seria melhor
perceber que a situação está ruim, mas vislumbrar possibilidade de mudança,
porém, o que vemos é que as coisas agem para que tudo permaneça exatamente como
está. Vide os políticos e a inércia com que a sociedade brasileira reage aos
desmandos dos nossos "representantes". Se eu não conhecesse algumas
pessoas que também se indignam com estas coisas, eu já teria desistido de tudo.
Enfim, tomar consciência do que está
errado é o primeiro passo para modificar a minha realidade. Acho que podemos
fazer pequenas ações no nosso dia-a-dia para ir transformando este futuro que,
até então, apresenta-se negro e sem esperança. Para começar a mudança, vou
deixar aí embaixo uns agradecimentos que gostaria de ter feito publicamente em
2014 na ocasião do Prêmio Açorianos para o qual fui indicada, mas não ganhei.
Não quero mais ficar com "coisas" entaladas na garganta. Este foi um
ano difícil, turbulento e desencorajante, mas espero que o time das pessoas que
estão determinadas a mudar toda esta situação que nos envolve se agigante.
Minha fé não me deixa pensar de outra forma, portanto, resta-me agradecer por
ter chegado até aqui e esperar que todos tenhamos um 2015 melhor e abençoado.
Que assim seja!
AGRADECIMENTOS
(versão estendida, pois no meu blog não há
limitação de tempo para escrever o que eu penso)
Quero agradecer em primeiro lugar a Deus
por ter colocado cada uma das pessoas que citarei a seguir em minha vida.
Obrigada à minha família, em especial meus
pais, por apoiarem minha decisão de ser artista mesmo que isto vá contra o
destino que eles traçaram para mim. Obrigada família por todo apoio emocional,
logístico e financeiro que vocês me dão em todos os aspectos da minha vida.
Agradeço também aos professores que me
tornaram a pessoa/artista que sou hoje, dentre eles, a pessoa que incutiu em
mim o amor pela dança: Terezinha Campos Figueiredo, a Tia Tê. Obrigada ao
mestre Robinson Gambarra pela indicação ao prêmio (sei que estava na lista
somente porque tu estavas na comissão julgadora) e por, junto com Andréa
Franco, ter acreditado em mim quando ainda era apenas uma boa aluna de
flamenco. Agradeço também ao corpo docente do Curso Tecnológico de Dança da
Ulbra, professores e colegas da primeira turma do Grupo Experimental de Dança
de Porto Alegre, à coreógrafa Maria Waleska van Helden, ao diretor Décio
Antunes e ao professor Jorge Venâncio por suas inesquecíveis aulas de história.
Agradeço ainda a influência inspiradora
das minhas colegas da Geda Cia de Dança Contemporânea (Fabiane Severo, Stela
Menezes e Fernanda Stein), dos meus amigos da Cia de Flamenco Del Puerto
(Juliana Prestes, Juliana Kersting, Danielle Zill, Ana Medeiros, Tatiana
Flores, Gabriel Matias e Giovani Capeletti) e todo o apoio que recebi e recebo
de colegas e amigos dos mais diferentes lugares por onde passei e passo. É
muito bom saber que tem muita gente que acredita e "torce" para que
sejamos felizes.
Um agradecimento especial aos alunos do
Tablado Andaluz e da Escola La Tablada por confiarem seus corpos a mim e por me
ensinarem tanto. Agradeço ainda a Antonio Machado, Joana Willadino e Laney
Langaro pela fé em meu trabalho.