domingo, 15 de setembro de 2013

REFLEXÕES PÓS-CONCURSO

Participar do I Concurso de Baile Flamenco do Tablado Andaluz me fez refletir sobre algumas coisas. Foi uma experiência enriquecedora que me deixou ainda mais certa do caminho que estou seguindo e das coisas que estou buscando. Fiquei ainda mais convicta das minhas idéias, percepções e ideais.

Vamos começar pelo começo. Depois de muito relutar decidi me inscrever na competição, mas não julgo aqueles que não sentiram vontade de fazer o mesmo. Não acho que é apenas medo que tira pessoas de competições assim. Há muito outros fatores que influenciam as decisões dos outros. Eu não sei o momento de vida e de carreira que cada um está passando e, por este motivo, não me coloco no papel de juiz e de crítico. Tem o motivo financeiro, pois a participação só era permitida mediante pagamento de uma taxa de inscrição de R$ 150,00. Não é muito, mas também não é pouco ainda mais para artistas que, em geral, vivem com pouco dinheiro e com muito trabalho. Tem também a credibilidade do evento, afinal de contas, foi a primeira edição do mesmo e muitas pessoas podem ter duvidado da efetiva realização e organização do mesmo. Tem ainda aqueles que são contra concursos que valoram a arte de cada um segundo critérios subjetivos de um corpo de jurados. Há aqueles que já tem uma certa trajetória de vida e profissão e que não acham necessário colocarem-se à prova num evento como este. E, por fim, existem os que estão buscando outras formas de expressão que não o baile de tablao que era o mote do concurso. Todos motivos válidos e perfeitamente aceitáveis, por isto não critico ninguém pelo fato de não terem subido ao palco.

A segunda reflexão que faço sobre o evento é quanto aos jurados. Desde o início achei ruim o fato de ter um único jurado com plenos poderes sobre o resultado do concurso. É óbvio que era uma pessoa super gabaritada, um maestro como existem poucos no mundo do flamenco, mas era apenas uma pessoa com sua subjetiva e suas impressões. Pelo feedback que ele me deu depois da minha participação na semifinal do concurso, entendi que ele elegeu uma característica específica do baile de tablao como sendo a mais importante e escolheu os finalistas de acordo com esta característica que, no caso, era a soltura em cena e a improvisação. Se houvessem outros jurados, haveriam outras subjetividades, outros estéticas, outros gostos e talvez tivessem elegido outras características como mais importantes como a qualidade técnica, o sentido rítmico, a expressividade e assim por diante. Assim sendo, o resultado do concurso teria sido outro, pois estas diversas subjetividades conversariam e tentariam chegar a um denominador comum.

Acho também que o concurso deveria rever a forma de julgamento. Acho que os jurados deveriam assistir aos ensaios, pois ali é onde podem ver se o bailaor sabe se comunicar com os músicos, entende da estrutura do baile, do cante, se ele realmente sabe o que está fazendo, se sabe acompanhar aos outros colegas nas palmas ou se o resultado que aparece na hora da cena só é possível graças à ajuda de terceiros que não deveriam fazer este papel na hora do ensaio de um concurso. Além disto, se o regulamento prevê um tempo mínimo e um tempo máximo para os bailes, as apresentações deveriam ter sido cronometradas, pois alguns participantes pareceram exceder o tempo máximo ou pareceram não cumprir o tempo mínimo exigido para os bailes. Falo estas coisas, pois este é o tipo de cuidado que faz um evento ter nome, respeito e atrair novos participantes no futuro. Quem é que quer participar de um evento que não tem credibilidade? A credibilidade é construída a partir destes pequenos e grandes detalhes e faz a diferença num evento que tem tudo para ser muito interessante e revelar grandes talentos.

Por fim, fiquei feliz com minha participação pois tive um feedback do jurado, do público e de pessoas que trabalham comigo muito importante. Pessoas que se emocionaram, que foram realmente tocadas por minha apresentação. O jurado não me mandou para a final, pois achou meu baile muito certinho para um tablao. Quer saber? Recebi como um elogio. Sim, eu ensaiei bastante o que eu queria fazer. Eu sabia exatamente o que queria e estudei para isto. Eu sabia exatamente o que pedir para os músicos e o resultado foi um baile perfeitamente estruturado e bem executado. Ouvi diferentes tipos de letras, montei o baile da forma que eu queria e consegui executar com emoção e qualidade técnica. Foi muito bom perceber que eu posso fazer. Que eu tenho condições de emocionar os outros e de me sentir feliz com minha atuação. Eu fiz o mais importante: cumpri meu objetivo e emocionei ao público. Era uma estréia, eu estava nervosa e realmente não estava "solta no palco", mas tenho certeza que conseguirei fazer isto. Agora, é seguir trabalhando, pois sempre há o que melhorar, não se pode limitar o crescimento e o conhecimento. A lição que tirei disto tudo é que sou capaz, que sou competente, que tenho todas as condições para chegar onde quero e que estou no caminho certo. Só me resta seguir em frente e, conforme o jurado, buscar os maestros que me proporcionem este crescimento e conhecimento.

2 comentários:

  1. Parabéns, Graziela, por sua participação e pelas suas reflexões dela resultantes!
    Lamentavelmente, não vi sua apresentação completa nem a final, pois só consegui ir na sexta-feira.
    Vc poderia indicar aqui quem foi o(a) vencedor(a)? Grato
    Alexandre

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  2. Olá Alexandre

    O Vencedor do concurso na categoria profissional foi o bailaor Gabriel Matias. O segundo lugar desta categoria foi dividido entre as bailaoras AnaCândida Amaral e Giovanna Vilariño. O prêmio da categoria amador foi para Marcela Gonzaga.

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