sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

REFLEXÕES PÓS-CURSO COM YOLANDA HEREDIA EM FLORIANÓPOLIS

Eu já tinha ouvido falar sobre Yolanda Heredia e suas famosas aulas de bata de cola, mas o curso com ela foi muito mais do que eu esperava. Esta gitana sevilhana me mostrou um novo caminho para o meu flamenco, um caminho que ela começou a trilhar há anos atrás depois de uma grave lesão que quase a matou. A nova forma com que ela reinventou o seu próprio flamenco me mostrou que posso misturar conceitos que vivencio na dança contemporânea com o flamenco sem com isso perder a estética e essência do flamenco de que gosto tanto.

Nas aulas de Yolanda, reconheci uma série de conceitos das "técnicas contemporâneas" de dança, mas o resultado continua sendo um "flamenco de raiz", com seus códigos, ritmos, padrões estéticos, porém extremamente pessoal e fluído. O primeiro código da dança contemporânea que identifiquei foi a preocupação com a saúde do corpo, ou seja, com a forma com que fazemos os movimentos para que eles não gerem lesões futuras. Respirar, identificar pontos de tensão, soltar o corpo, não prender as articulações, não enrijecer o corpo, cuidar com o espaço onde estamos, reconhecê-lo e reconhecer nossos limites corporais e espaciais, tudo isso estava presente nas aulas. Foi libertador. Eu só conseguia pensar: como foi que eu nunca pensei em trazer este tipo de cuidado com o corpo pra minha prática flamenca?

Na aula de bata, ficaram evidentes conceitos como a transferência de peso corporal, o fluxo do corpo, de seus movimentos, a relação com a gravidade, a utilização de pêndulos corporais, o "jogar" o corpo no espaço, confiando que temos amparos externos para o nosso equilíbrio, a tentativa de não tensionar a musculatura externa, mas realizar os movimentos através da força de músculos mais internos, mais próximos aos ossos e, desta forma, poupar energia e tornar o movimento mais fluído, mais leve, mais solto no espaço e no próprio corpo. Além disto, a idéia contínua de que o movimento não deve ser "travado", que ele continua sempre, que podemos confiar na inteligência do nosso próprio corpo, que ele sabe reagir aos "problemas" que surgem pelo caminho, enfim, um estar disponível para tudo que está acontecendo ao nosso redor e deixar que isso modifique e transforme nosso corpo, movimento e coreografias.

Sério, Yolanda Heredia alargou um caminho que eu só tinha visto espiando pela fechadura. Eu já buscava unir tudo isso, mas não sabia muito bem como. Nunca quis criar uma nova dança, uma mistura de flamenco com dança contemporânea, mas sempre me interessou uma nova relação com o corpo e com aquilo que transmitimos para o público que nos vê e para os colegas que nos acompanham em cena. Depois deste fim de semana no Campeche, sinto que tenho ferramentas para unir as duas coisas nas quais trabalho corporalmente sem necessariamente criar um novo "estilo" de dança. Eu amo o flamenco tradicional, com sua estética, forma e estrutura tradicionais. Amo também a dança contemporânea, que me permite improvisar e criar meus próprios passos e expressões, além de modificar modificar movimentos e criar novas relações do corpo com o espaço e com objetos cênicos. Agora, Yolanda Heredia me mostrou que posso unir as duas coisas no meu corpo e seguir mantendo-as esteticamente independentes. O caminho é longo, mas já estou dando meus primeiros passos. Olé Yolanda Heredia! Gracias por todo, maestra!

Foto: Eduardo Vasconcellos
Creative Commons (by-nc)
Foto: Eduardo Vasconcellos
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